Sobre o blog:

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Mutilação Emocional

Literatura Inglesa e Norte Americana

Elcio Eiko Brandão

Eron Kojiro

RGM: 23077646                        Turma: 7N1



Poemas escolhidos:


perhaps 

i don’t deserve 

nice things 

cause i am paying 

for sins i don’t 

remember


you have sadness 

living in places 

sadness shouldn’t live 


INTERTEXTO:

O primeiro poema me fez lembrar de duas passagens, uma sobre o Evangelho segundo O Espiritismo, que fala um pouco sobre como a gente vem para a terra "pagar nossas dívidas", a partir da página 86.

O Evangelho segundo O Espiritismo

A segunda é do Livro dos Espíritos que explica porque não trazemos lembranças de uma encarnação para a outra na pergunta número 392, Esquecimento do Passado, página 209.

Livro dos Espíritos

Acredito ser muito curioso o fato de que passamos por algumas coisas sem entender de forma nenhuma a razão e nessa perspectiva do espiritismo pode trazer algum tipo de sentido, embora, sempre fosse um ponto de enorme atrito entre mim e a religião.


O segundo poema me faz lembrar do poema mais intenso sobre depressão que já escutei e li até hoje: Explaining My Depression to My Mother: A Conversation by Sabrina Benaim.

Em seu poema ela tenta mostrar, já que é diferente pra cada pessoa, como é angustiante, solitário, desesperador e confuso passar por isso e como você sente coisas, incluindo uma carga brutal de tristeza, morando em lugares dentro do seu corpo, que não deveriam estar, na verdade.

A transcrição dele você pode encontrar em muitos sites na internet, mas deixo aqui o vídeo da própria autora declamando:

Sabrina Benaim - Explaining My Depression to My Mother


Juntando um pouco de cada um eu escrevi algo, não sei se pode ser chamado de poema, mas nele deixo as evidências do que tenho feito a mim mesmo pelos últimos anos, uso apenas a expressão "últimos anos", porque de fato não sei por quanto tempo tenho feito isso.


Generalised Depression by Shawn Coss

Mutilação Emocional

Querido Deus,

Ultimamente não tenho tido mais forças

Você sabe, perdi a conta dos dias

Em que vi a chegada dos raios de sol

Pois os turbilhões de pensamentos a cada minuto me impediram de aproveitar a escuridão da noite

Em que o mais profundo da minha existência se contorcia de dor aqui dentro, chorando

Mas eu nunca puder contar pra ninguém, pois sempre estive sozinho

Em que olhei pra dentro e não avistei nada, nem ninguém

Os sentimentos que projeto aqui fora... estão completamente vazios

A propósito, quando choro, fico na tola esperança de que meu corpo está eliminando as coisas ruins de dentro de mim

Mas era só mais uma ferida se abrindo ou as que já existem aumentando

Já sentiu as dores? De uma dessas se abrindo ou aumentando?

Eu sempre fico a desejar a morte no lugar...

Mas eu quero tanto viver... Tanto...

E chego a implorar ao senhor, com a força de cada fibra do meu ser

Que a dor passasse

Que o vazio preenchesse

Que os buracos e feridas parassem de sangrar e fechassem

 

Eu sequer consigo me lembrar de quando esse vazio se instalou

Talvez tenha sido ali aos 7 quando fui jogado dentro daquela lixeira

Por que não tive irmãos que me ajudaram e só riram?

Por que não tive um pai que me protegesse e só disse que devia parar de frescura?

A propósito, quando foi que ele começou a odiar a família que ele construiu e decidiu entrar em outra?

Será que foi quando eu e meus irmãos nos tornamos uma decepção pra ele?

Deus, por que eu não pude nascer e ser como os outros garotos?

Pra que tamanha diferença?

Deus...

Quando riam da aparência desse corpo...

Quando apontava para o seco e o rachado espalhado ao longo da minha pele...

Quando me chamavam daquilo que reconheço hoje, mas aos 7 não fazia ideia do que significava

Onde o senhor estava?

 

Tudo o que tem me sobrado são buracos vazios espalhados pelo meu espirito

Eu sinto como se fosse uma doença terminal

Que vem me matando de dentro pra fora, lenta e torturosamente sem nunca chegar lá...

Esses são os buracos da minha existência passada que continuaram abertos?

Eles são as memórias que me arrancou e me jogou aqui novamente com as feridas abertas?

Eu não consigo mais respirar sem sentir o ardor profundo de cada um deles

E pra tentar esquecer da dor deles, penso em sentir dor aqui do lado de fora

E penso com muita força, todo dia, o tempo inteiro, o senhor sabe, com certeza

Até fui impedido quando as lâminas chegaram tão perto da minha pele

Logo depois daquela aula e minha professora nunca soube, por mais que ela tenha tentado me acessar

 

Como não pude seguir com um auto ataque do lado de fora

Sigo nesse processo de mutilação emocional

Arrancando pedaço a pedaço e os deixando pelo caminho

Mas ninguém pode ver os cortes internos, que não se limitam aos meus pulsos

E quem sabe de tanto abrir mais e mais os buracos e as feridas

Eu não desmaie com a dor e pergunte pessoalmente

Por que foi tão cruel e deixou sua criança ferida de tal forma

Onde estava e por que não impediu?

Se és tanto amor, onde ele estava?

Anxiety disorder by Shawn Coss
Querido Deus, por que me odiou tanto se tudo o que eu fiz foi confiar?

Mas talvez esse seja o pagamento

Por tudo o que fiz e não lembro

Então vou continuar a me mutilar

Sem que ninguém possa ver

Sem que ninguém possa perceber

Sem que ninguém possa me ajudar

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